Depois de 10 anos afastado da TV, o ator, diretor e produtor Claudio Cavalcanti, vegetariano declarado e eterno defensor dos direitos dos animais, volta à telinha para uma participação especial na novela Amor e revolução, do SBT/Alterosa, interpretando Geraldo, líder camponês e revolucionário que incentiva a luta armada contra a ditadura.Como preparação para a novela, os atores tiveram dois dias de workshop para entender essa época da história do Brasil. A emissora convidou algumas pessoas que vivenciaram os “anos de chumbo” para dar seus depoimentos. “A gente achava que sabia o que tinha acontecido no país. Mas quando se ouve da boca dos torturados, aí isso te derruba... Todos eles disseram que o lema era: tenho de aguentar mais 24 horas para não entregar meus companheiros.”
Ativismo
Foi em um desses encontros que o ator descobriu como compor o personagem. Segundo Cavalcanti, um dos convidados revelou que quando a tortura chegava no limite do sofrimento, a pessoa preferia morrer. Porém, um dos convidados afirmou que “não queria morrer, que queria viver para sair de lá e matar aqueles caras porque o ódio o mantinha vivo”.
“Quando ele falou isso, eu pensei: já sei fazer o personagem. Ele me deu o cerne do papel”, conta o ator, que, na vida real, vivenciou algumas situações daquela época. “Vi amigos sendo presos, exilados, censurados. Eu dava abrigo às pessoas que achavam que estavam sendo perseguidas. Era uma paranoia. Eu vivi essa época, vi as coisas acontecerem de perto”, lembra.
Antes de regressar às novelas, o ator, que completará 55 anos de carreira em 13 de dezembro, se dedicou à atividade parlamentar, como vereador no Rio de Janeiro. “Estive afastado cumprindo minha missão na vida, que é a defesa dos animais. E agora voltei à minha paixão que é ser ator”, diz Cavalcanti, que estreou na carreira artística em 1956, aos 16 anos, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), ao lado de nomes como Natália Thimberg e Fernanda Montenegro. O ator acumula em seu currículo mais de 30 peças.
Do teatro para a TV foi um pulo. Depois de passar pela Tupi, chegou à Globo, na qual passou boa parte de sua carreira. Fez Anastácia, mulher sem destino (1967), de Janete Clair, e colecionou sucesso como Irmãos Coragem (1970), Dona Xepa (1977), Pai herói (1979), Água viva (1980), Roque Santeiro (1985), O salvador da pátria (1989) e A viagem (1994).
Considerado um dos grandes nomes da TV brasileira, Cavalcanti trabalhou ainda em três novelas na Record. Seu último personagem, antes de se dedicar à vida parlamentar, foi em Vidas cruzadas (2001). Questionado sobre sua maior decepção, ele se mostra desiludido com o ser humano. E deixa novamente aflorar sua paixão pelos bichos. “O ser humano é uma experiência que não deu certo. Os bichos são muito melhores do que nós.”
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