quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Fátima Freire: "Tiago Santiago não pôde fazer tudo que era planejado"

O jejum de 15 anos sem fazer novelas foi quebrado de maneira inusitada para Fátima Freire - o último trabalho da atriz nos folhetins foi na minissérie O Fim do Mundo, da Globo, em 1996. Ela estava na sala de espera de um consultório médico quando encontrou o autor Tiago Santiago. E uma conversa de poucos minutos bastou para que ele a convidasse para viver a professora universitária Lúcia, de Amor e Revolução, do SBT. "Ele me contou que escreveria uma história sobre a época da ditadura e contei o quanto me identificava com essa temática, em função de ter vivido um pouco aquela insegurança. Na mesma hora ele me perguntou se eu gostaria de participar", explica ela, que vive a mãe da heroína Maria Paixão, interpretada por Graziela Schmitt. Filha de um esquerdista, Fátima lembra com emoção o período em que sofria com o medo de ver sua família prejudicada pelo regime militar. "Em 1970, chegamos a ir para Genebra, onde ficamos por um ano e meio", recorda ela, aos 56 anos.

TV Press - Você interpreta uma mulher que vive no período da ditadura, época que conheceu ainda criança. De que forma isso influencia seu trabalho?
Fátima Freire - Nossa, sempre me emociono muito. Meu pai era de esquerda e tínhamos muitas reuniões políticas em casa. Eram grupos formados por universitários, jornalistas, escritores, enfim, minha casa servia de espaço de debate de assuntos políticos. E meu pai sempre me ensinava muito sobre justiça e as diferenças sociais. Aos seis anos, eu já sabia sobre a revolução de Cuba, sobre Che Guevara e diversos assuntos que muita gente sequer conhece hoje em dia. Sofria com o medo de meu pai ser perseguido. Em 1970, chegamos a ir para Genebra, onde ficamos por um ano e meio. Ele recebeu uma proposta lá, mas foi também uma espécie de fuga do Brasil.

TV Press - E como você vê a repercussão em cima desses assuntos hoje, em função da novela?
Fátima Freire - Fiquei bem impressionada com tudo que ouvi até agora. Fui parada diversas vezes na rua, no aeroporto, supermercado e em diversos lugares. E não só por pessoas mais velhas que não tinham ideia do que foi, de fato, a ditadura, mas também por muitos jovens que assistem à novela e nunca passaram por um período desses. Eles já nasceram na democracia. A juventude da minha época era mais sonhadora, estava efervescendo a discussão política na América do Sul. Era uma juventude idealista, que ia para as ruas exigir seus direitos.

TV Press - Mas a emissora optou por cortar algumas cenas...
Fátima Freire - É verdade. Percebeu-se que algumas pessoas começaram a ficar impressionadas demais com cenas fortes de tortura e foi pedido que essas sequências não fossem mostradas explicitamente. Poderiam ser faladas, mas de jeito nenhum deixamos de contar a história. Tudo isso fez com que a nossa novela fosse um pouco tolhida, sentimos reações de cortes aqui e ali. Acho que o Tiago não pôde fazer exatamente o que estava planejado.

TV Press - Isso gerou algum incômodo nos bastidores?
Fátima Freire - É claro que a gente fica um pouco triste porque deixa aquela vontade de mostrar um pouquinho mais. Até porque as situações de tortura aconteceram muito. E a novela se passa às 22h30, muitas cenas vão ao ar às 23 horas ou perto desse horário. Não é uma faixa para criança ver. A gente vive assistindo às cenas violentas de filmes que são transmitidos à noite. Mas, quando vem uma ordem de cima, não dá para fazer nada. O bacana é que a novela cumpriu a função de trazer essa história brasileira recente. Que é interessante e faz as pessoas refletirem sobre a importância da democracia. Mesmo que seja uma democracia com problemas.

TV Press - Você estava há 15 anos sem fazer uma novela - aparecia apenas em curtas participações. Foi uma decisão sua?
Fátima Freire - Não optei por isso e não sou capaz de explicar o que aconteceu de fato. Fui me envolvendo mais com o teatro e também me afastei do país por um período. Morei nos Estados Unidos entre 1998 e 2000. Fui com minha família e foi uma decisão que me deixou longe do meio de televisão. Quando voltei, alguns diretores que eram meus conhecidos já tinham saído, se aposentado, foi uma junção de coisas. Agora, espero não repetir isso e voltar a atuar mais na televisão.

Fonte: Portal Terra

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