Roberto Carlos com black power, Carla Perez de shortinho, no auge do grupo É O Tchan, Silvio Santos com a cor do cabelo natural, Joana Prado de Feiticeira, Gugu, Hebe Camargo. Todos têm lugar nas imagens que decoram a sala do diretor de auditório do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), Roque Gonçalo, eternizado pelo bordão "Má, Roqueeeeeeee".
São 58 anos ao lado do dono baú e 32 de SBT, revisitados no acervo espalhado pelas paredes da sala onde Roque recebeu a reportagem do UOL, após mais um dia de gravações. Ele diz que tem "a melhor plateia do Brasil" e não se cansa de exaltar seu empregador. "Já estou aposentado pelo INPS [antigo Instituto Nacional da Previdência Social], mas enquanto puder acompanhar o seu Silvio, ele de bengala e eu também, estarei ao lado dele com o maior prazer. Até o último programa. Para mim, ele é o melhor patrão de todos", afirmou o diretor de 75 anos.
O casamento começou nos estúdios da Rádio Nacional [atual Globo], quando Silvio era locutor e Roque office boy. "Entregava as cartas que os fãs deixavam para ele e fui pegando amizade. Quando ele conseguiu o canal dele, disse: 'Agora chegou a hora de você sair da Globo e vir comigo. Você será o homem responsável pelo público do SBT. Cuide bem dele, porque graças a ele que fiquei rico'", relembrou o animador.
Atualmente, Roque coordena uma equipe de 12 pessoas e tem a missão de recepcionar quase 2 mil pessoas que passam semanalmente nos estúdios da emissora. De segunda a sexta-feira, chega ao trabalho às 8h e cuida pessoalmente da recepção antes do início das gravações. "Meu serviço é tratar bem o público. A alegria do Silvio é o auditório dele".
Roque já foi responsável por encher os auditórios dos apresentadores Chacrinha, Moacyr Franco e Faustão. Ao falar do "velho guerreiro", o diretor relembrou que era difícil controlar a plateia de Chacrinha. "Tinha que ter muito jogo de cintura com o auditório dele. Ele jogava coisas nas pessoas e às vezes machucava. Era preciso muita conversa".
O relato é interrompido várias vezes, enquanto Roque atende ao telefone, pede para um dos motoristas do SBT esperá-lo para almoçar, conversa com sua equipe e com o empresário dos palhaços Patati e Patata, Rinaldo Helder Faria. A rotina atarefada faz parte do negócio: "Ganho para atender e não posso decepcionar. Atendo meu povo com prazer. Graças a ele que hoje posso dizer que sou um homem feliz".
O telefone toca mais uma vez. É o apresentador Nelson Rubens, que deixa seu depoimento sobre o assistente de palco para a reportagem: "O Silvio Santos vem aí graças ao Roque. Ele deixa a plateia à vontade. Recebe todos com muito carinho, animação, não discrimina ninguém. Ele é o homem à frente do Silvio [Santos], afinal ele que abre o auditório", elogiou o jornalista.
Ser organizador de plateia não é uma tarefa fácil. Antes de ter uma equipe, Roque percorria as ruas do centro de São Paulo com um alto-falante e um ônibus convidando as pessoas para participar do "Programa do Silvio Santos". "Sou o maior organizador de auditório do Brasil. Sei escolher as meninas bonitas e as feias", gabou-se, aos risos.
Silvio costuma brincar que Roque é um funcionário exemplar, pois trabalha há 32 anos no SBT e ganha apenas um salário mínimo.
"Não fiquei rico até hoje, pois sou um homem honesto com meu povo", diz o animador, sem revelar o valor de sua remuneração. "Já realizei 70% dos meus sonhos, para completar só falta ganhar na loteria. Só assim concretizamos um sonho de verdade".
Nascido em Boa Esperança do Sul, no interior de São Paulo, Roque já foi vereador de Carapicuíba, na Grande São Paulo, e hoje reside na zona norte de São Paulo, em sua casa própria.
Pai de sete filhos, de vários relacionamentos – prefere não citar quantos –, o animador tem a companhia de um deles no SBT. "É cabo man e logo será cameraman. Uma trabalha com marketing, outro é jornalista em Carapicuíba e os outros foram criados pela escola da vida. Sempre digo para eles confiarem em si próprios para que vençam na vida".
Roque é daqueles funcionários fiéis, que veste a camisa da empresa e acredita nas relações baseadas na confiança e na verdade. "Já recebi propostas de todas as emissoras, mas jamais deixaria o Silvio. Primeiro, porque ele é meu amigo e segundo, pela liberdade que tenho para executar meu trabalho. Tenho carta branca no SBT. Ele confia em mim, como confio nele".
Sobre o que Silvio faria sem Roque, nem ele mesmo sabe dizer. "Faltaria alguém para compreendê-lo. Eu consigo entendê-lo bem".
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