Hebe
tinha acabado de voltar para o SBT. E ela nos deixou, aos 83 anos de idade,
dois dias após acertar seu retorno para a emissora de Silvio Santos. A
trajetória de Hebe foi muito marcante na emissora e apagar as 3 letrinhas da
testa, como disse na despedida, no ar, em 27 de dezembro de 2010, foi mais
difícil que ela imaginava. Hoje, no Cartas e Cartazes, vamos destacar o anúncio
que marca o início de sua trajetória na emissora de Silvio Santos, numa
homenagem mais do que merecida à Rainha da TV brasileira.
Hebe
estreou no SBT no dia 4 de março de 1986, após uma passagem bastante
conflituosa na TV Bandeirantes. Lá, foi demitida em 1981 por Walter Clark (Hebe
chamou a atitude de "molecagem" na oportunidade) e um ano depois retornaria a
emissora como se nada tivesse acontecido. Em 1986, foi a vez do troco. Hebe,
que teve o contrato vencido com a Band em dezembro de 85, já tinha um
compromisso verbal de renová-lo. Porém, no dia 31 de janeiro assinou com o SBT.
Ao chegar para apresentar seu último programa na Bandeirantes, comunicou a
assinatura de contrato com o SBT e foi impedida de apresentar sua tradicional
atração. À época, acusaram-na de pensar em fazer uma despedida ao vivo: "Seria
uma atitude indigna. Eu iria caprichar ainda mais", disse Hebe na oportunidade.
Pelo sim pelo não, a despedida no ar (não foi ao vivo, mas tá valendo) veio no
SBT em 2010.
Mas
vamos ao SBT. A estreia de Hebe na emissora foi ao vivo, às 21h25, no Teatro
Silvio Santos, com as presenças de Romeu Tuma, Elba Ramalho, Wando, Roberta Close,
Nair Bello, Giba Um, Lúcia Veríssimo, Jece Valadão, Carlos Alberto Torres, Irede Cardoso e Ayrton
Baffa. O primeiro assunto posto em pauta no talk-show foi "mulheres que amam
homens casados". Digamos que era um assunto bem avançado para os padrões da
época, que ainda eram um tanto conservadores. Hebe estreou e com muito sucesso.
Em entrevista ao Estadão naquela semana, contou como foi chegar ao SBT: "Primeiro fiquei muito angustiada. Havia tensão, medo de estrear, apesar dos
meus 41 anos de carreira. Mas em pouco tempo me senti em casa. Mesmo antes da
estreia, todas as vezes que fui até a emissora [SBT], o pessoal me tratou muito
bem, desde o porteiro até o funcionário mais graduado. Senti que todos estavam
muito felizes por eu estar lá. Ninguém me olhava com inveja ou ciúmes".
O
anúncio apresentado hoje foi publicado na segunda terça-feira da atração, dia
11 de março de 1986. Nele, o SBT comemora a chegada da "maior comunicadora da
história da TV brasileira". Hebe puxaria uma fila de contratações que se
seguiriam em 1987 e 1988, com Carlos Alberto de Nóbrega (após rápida passagem
também pela Band) e Jô Soares (ex-Globo). Por muito pouco, em 1989, não se
juntaria também a essa lista Chico Anysio. Ficou no quase.
Reparem
como o SBT fala em "melhoria de programação" com a chegada de Hebe Camargo.
Além de seu poder comercial sempre forte, Hebe despertava o lado popular sem
ser popularesco que o SBT pretendeu implantar durante toda a segunda metade da
década de 80. Programas como "O Povo na TV" perdiam espaço para programas mais
bem trabalhados, tudo buscando uma maior respeitabilidade junto ao mercado que
via no SBT uma emissora que cresceu às custas das classes mais baixas. Ainda
vale mencionar a frase "quando o sucesso encontra o sucesso". Querendo ou não,
o SBT cutucava a Bandeirantes dizendo que Hebe Camargo finalmente encontraria
sucesso de verdade estando no SBT.
Reparem
ainda, no dia de exibição de Hebe Camargo. Não é nada comum, pensar em Hebe
exibida às terças-feiras. Mas durante a década de 80 isso foi bastante comum.
Hebe só veio a chegar a chegar às segundas no início da década de 90,
especialmente quando teve dois programas simultaneamente no ar: o Hebe por Elas
e o Hebe (um na segunda e o outro na terça), sendo que o primeiro teve vida
curta na grade.
Falando
em início da década de 90, vale o destaque: em 1991, quando Gabriela
Rivero
veio ao Brasil embalado pelo sucesso como Professora Helena de
Carrossel, esta
não pôde participar do programa Hebe. Motivo? Os diretores do SBT
alegavam que
seria um choque pras crianças verem ela falar "mi papá" e "mi mamá" e
não "meu
papai" e “minha mamãe”. Infelizmente, ela não teve a oportunidade de
receber em seu sofá a Professora Helena brasileira. Nem brincar com o
Cirilo, nem zoar com o Paulo, nem elogiar a beleza da Maria Joaquina...
Fica
nossa homenagem a Hebe Camargo no dia de sua morte, tão inesperada, agora que
tinha se declarado extremamente feliz por sua volta ao SBT. Triste ironia do
destino. Descanse em paz, gracinha!